Não me entenda mal, não sou qualquer desacreditada no amor.

The Room
3 min readApr 5, 2021

Há mais ou menos 3 anos, me questionei pela primeira vez se seria capaz de amar sem me amar. Adentrei em meu primeiro relacionamento com esse fantasma nas costas e talvez, só talvez, apenas tenha percebido a dura realidade com a experiência.

Não me entenda mal, não sou qualquer desacreditada no amor.

O motivo que deveria temer nunca foi a falta de amor próprio; era meu vazio de propósito. Passei por muitas experiências traumáticas de apego. Não faz muito tempo que — finalmente — venho refletindo sobre elas mas, com certeza, moldaram significativamente meu modo de enxergar as relações e o amor — enquanto conceito.

Esse, como sempre, é apenas mais um desabafo angustiado. Sinto-me incapaz de dizer clara e firmemente todas as minhas maiores preocupações, principalmente na situação em que me encontro. Correndo contra a solidão aparente, como sempre fiz, tenho dificuldade, inclusive, de seguir uma linha coesa de raciocínio, mas esforço-me por me fazer entender.

Cercada pela ausência de um parceiro romântico, seja apenas no flerte ou ao tão famoso namoro, parece-me que detenho minha própria insignificância à espreita. Sinto que fugi disso por todos esses anos… por toda a minha vida. Usei a desculpa de amar, de buscar carinho, afeto e atenção para fugir de minha própria imagem. Mas que imagem? Sou incapaz de dizer.

Amar, para mim, era para não me reconhecer enquanto indivíduo uno; mono. Minha identidade, sempre temi, que fosse a pior que pudesse ser, ao mesmo tempo em que não queria tornar-me nada a qual pudesse me orgulhar. Gostar de alguém, projetar os meus desejos, os meus sonhos, as minhas qualidades e meus defeitos, era o modo pelo qual ainda mantinha minha própria originalidade. Permitia-me orgulhar-me, viver por outrem — ser “a segunda” — desde que nunca, em nenhum momento, pudesse eu mesma alcançar tais objetivos/propósitos. Amar, enquanto meu conceito, era fugir da realidade.

E, ironicamente, obtive êxito por 19 anos. Comecei apegada à família, depois a amigos, expandi para todos ao meu redor até…!, que chegou os interesses românticos. Usei a maioria, senão todos os meus apegos como uma anulação suprema de mim mesma; um escudo do que poderia encontrar lá no fundo. Contraditoriamente, sempre pensei que fosse honrada pela capacidade de observar a mim mesma, beeem de perto, movida por uma curiosidade e coragem impressionantes, mas me foi necessário ficar finalmente sozinha para encarar o que acredito ser a minha pior sombra até então. O monstro, a face mais obscura e assustadora em mim mesma… a culpa.

A culpa que me consome não se baseia em nada em específico; apenas sinto culpa por viver e existir. Sinto culpa por desejar e ser. Anular a mim mesma sempre foi o meu propósito. Desconfio que sempre fui movida por uma energia autodestrutiva e confesso que o meio menos perceptível para tal fosse o apego; meu modo de amar. Apego, vivo por outro e existo por outro. Assim, só assim, sou capaz de manter a minha existência. O propósito do meu amor é a não existência. Ele não existe enquanto sentimento ou enquanto união romântica, ele é formado pelo mais alto desespero em ficar sozinha. Sozinha com a triste verdade que, não importa o que faça, eu existo, ou pelo menos, existi.

Sempre pensei que sabia o que fazer, quem eu era, aonde queria chegar, mas estava enganada. Agora, solteira, sem um apego forte ou específico, fiquei cara a cara comigo mesma. Estou totalmente desamparada. Não sei como seguir em frente sem ter onde pisar. As esperanças que construí tolamente para mim mesma, de que tudo o que precisava era alguém… alguém para amar… morreram. Talvez tenha percebido do pior modo que, independente de tudo, estou muito mais sozinha do que gostaria de estar. Não importa o quanto ame ou esteja acompanhada, no final, será sempre eu mesma que me direi para onde ir, o que fazer, como fazer e o que desejo. Fugi loucamente dessas perguntas com medo de viver mais do que acreditei que deveria. Ainda reluto nas minhas decisões e escolhas…

Mas eu não sou qualquer desacreditada no amor, pelo contrário, amo e amo muito. Tenho orgulho de ser capaz de amar, ainda… longe de mim desejar a indiferença simplesmente pelo sofrimento. Pelo contrário, talvez porque nunca tive um sofrimento devastador por amor me mantenha firme na decisão de amar. Mas esse não é o meu desejo, não mais. Nunca deixei de ser capaz de amar porque não me amava, apenas dei o significado errado para o tal.

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The Room

O Quarto é para onde vão todas as coisas; tudo nele entra, nada dele sai.